ACERCA DA MORTE E DOS SEUS FINS

16/04/2014 11:00

Por Murillo Torres – Venerável Mestre da Loja Maçônica Deus, Harmonia e Amor nº 149, Oriente de Sento Sé (BA).

 

Muito provavelmente, você, estimado leitor, ao se deparar com o presente trabalho, me julgará como sendo pretensioso e/ou leviano. Não é sem razão que muitos assim pensarão. Afinal, como falar sobre a morte, com a devida propriedade, se a mesma é uma experiência pessoal/ individual e – ao menos atualmente e de modo genericamente conhecido – sem provas irrefutáveis de que alguém que tenha passado por ela tenha retornado a este plano para nos dar informações precisas e cabalmente comprovadas?

 

De outro lado, não poderemos olvidar que a tamanha certeza presente nas simples palavras do saudoso Lama Anagarita Govinda pareça nos remeter a uma verdade inconteste: "Não há uma pessoa (...) que não tenha retornado da morte.”

 

Saliente-se, além de tudo, que não temos nenhuma pretensão de refutar as “verdades comumente aceitas”, nem, tampouco, abordar o presente tema de modo a gerar uma aceitação geral. Pelo contrário, apenas estou baseando o meu humilde entendimento em alguns relatos de pessoas que, para mim, conseguiram verificar a procedência dessas informações, esforçadas pelos Ensinamentos da Sabedoria Antiga.

 

Ademais, no atinente ao presente tema, não se pode, também, desconsiderar a forte influência que sofremos – e que muitas vezes parecem anuviar a nossa compreensão sobre o presente tema – decorrente das nossas crenças pessoais, vez que tudo em que acreditamos exerce irremediável influência no “inconsciente coletivo”. Consequentemente, quanto maior número de pessoas alimenta uma determinada “crença”, mais ela tende a se “materializar”.

 

Nesse sentido, podemos dizer que as crenças humanas modificam, em considerável medida, as "paisagens" dos planos mentais e astrais, gerando, em ambas as dimensões, sons, cores, formas e etc., de acordo com os nossos sentimentos e pensamentos.

 

Podemos concluir, portanto, que as “experiências póstumas” a serem “vivenciadas” por um espírita, serão, em muito, diferentes do que será “vivenciado” por um católico, por um budista, por um evangélico e etc. Cada um será “conduzido”, após a morte, conforme o conteúdo psíquico de sua consciência.

 

De acordo com a Sabedoria Antiga, o homem não deixa de ser aquilo que é imediatamente após a morte, ou seja, a pessoa não perde suas características psicológicas imediatamente, assim, sendo um protestante, não deixará de ser protestante imediatamente após a morte. Em conseguinte, além de nos depararmos com as nossas próprias criações, experimentaremos uma “realidade”, segundo as influências das nossas afinidades, decorrente das criações psíquicas que dominam a humanidade. Ou seja, conforme forem os nossos pensamentos, temores e expectativas, assim será o nosso contato com o “mundo pós-morte”.

 

Muitos desses conhecimentos foram registrados pelos egípcios no livro conhecido como "O Livro dos Mortos", bem assim por outros povos a exemplo dos tibetanos no livro “Bardo Thodol”.

 

De acordo com esses ensinamentos, da mesma forma que existe uma “arte de viver”, existe, também, uma “arte de morrer”. Inclusive, a morte é, geralmente, nos referidos livros, apontada como o momento mais importante da nossa existência.

 

Segundo o livro dos mortos tibetano, durante a morte, a percepção do que acontece no exterior vai sendo substituída pelo aumento da nossa percepção do que acontece no “mundo interior”. É nesse momento que o individuo é conduzido ao plano da existência eterna.

 

Segundo os tibetanos, no momento em que a nossa energia vital inicia o seu processo de “abandono do corpo físico”, uma forte luz branca nos aparece dentro de um enorme túnel. Nesse instante, somente se o individuo for capaz de unir-se àquela luz, fundindo a sua consciência individual à sua vitalidade, o mesmo conseguirá alcançar A Vida Eterna. Se, ao contrário, o indivíduo não conseguir fundir-se a essa luz brilhante, ela desaparecerá e o ser mergulhará num estado de sonolência. Nesse caso, o indivíduo despertará as suas “formas pensamento”, isto é, as “crenças” que lhe foram geradas durante toda a sua vida. Durante essa experiência, seus pensamentos e sentimentos, bons, assumem formas, bondosas e belas. Podendo, no entanto, acontecer que as formas benévolas sejam substituídas por formas aterradoras que representam os seus desejos e pensamentos violentos, egoístas, de ódio, de ambição e etc, conforme as vibrações que ele próprio desenvolveu durante a sua vida. Após isso, se tornará um verdadeiro desafio conseguir manter-se no estado de meditação necessário para conduzi-lo à sua libertação do ciclo de encarnações. E, essa libertação só lhe será possível, após concluído o seu aprendizado na terra, tendo reunido valores que possibilitem o ser a atingir tal objetivo. Caso o indivíduo não consiga reintegrar-se à sua “natureza primordial”, a sua consciência será atraída pelos centros de forças inferiores, ligados a sentimentos e pensamentos altamente materialistas, que vão envolvendo o ser com imagens normalmente ligadas às suas fraquezas e que o arrastarão para uma espécie de pesadelo. Nesse caso, o ser mergulhará num estado de inconsciência, alternado por períodos conscientes, carregados de imagens que habitam o inconsciente coletivo, ligadas aos seus condicionamentos. O individuo permanecerá, então, num estado “semiconsciente”, até que a sua personalidade se desintegre totalmente e a sua energia vital seja, enfim, absorvida por sua “substância primordial”. Esse átomo primordial é, então, reintegrado à sua origem para que seja revitalizado e novamente "enviado" à face da terra, quando houver uma nova oportunidade de aprendizado, quando serão reconstruídos seus veículos mentais e emocionais, sendo atraída por fim, para dentro do útero, para reconstruir um corpo físico.

 

Enfim, independente das convicções religiosas ou espiritualistas de cada um, durante a nossa vida terrena, devemos nos preparar para a nossa morte. Sem exageros, claro. Mas, com serenidade e consciência de que assim como nascemos, todos morreremos.

 

Somente de conseguirmos compreender que todo apego e toda resistência às mudanças, só produz sofrimento e decepções e que a vida é um fluxo cuja tentativa de detê-lo, por capricho, nos coloca em oposição às Leis Universais, nos tornaremos capazes de entender o Verdadeiro Sentido da Vida e da Morte, bem como, poderemos vivenciar a “Vida Eterna” referida por Jesus Cristo e tão almejada por todos.