A HUMILDADE E A TOLERÂNCIA ENQUANTO VIRTUDES QUE SE BUSCAM

07/11/2013 21:29

[Por Yhssahrim Zell-Agozam]

 

 

Bem, antes de tudo, é preciso salientar que o presente texto é, na verdade, uma tentativa de encontrar a melhor resposta para a seguinte pergunta:

 

“É possível ter “Vida Maçônica” sem “TOLERÂNCIA” e “HUMILDADE”?”

 

Tal pergunta foi proposta por um querido irmão, numa conversa informal, como sugestão de Tema a ser abordado.

 

Responder a uma pergunta como essa, inicialmente, parece ser simples. Qualquer maçom, sem considerar a real complexidade do seu conteúdo, diria logo, de forma rápida e sem pensar:

 

“NÃO. Não é possível existir Vida Maçônica sem TOLERÂNCIA e HUMILDADE.”

 

Porém, se nos dedicarmos um pouco mais sobre o assunto e se desejamos encontrar uma resposta aceitável, lógica e de possível verificação, perceberemos que é necessário fazer algumas considerações e contextualizações, antes de nos aventurarmos a respondê-la.

 

Senão vejamos:

 

Primeiro, necessitamos entender bem o primeiro termo, isto é, “VIDA MAÇÔNICA”:

 

Bem, o termo é composto de dois núcleos (o Substantivo VIDA + o adjetivo MAÇÔNICA), mas, não será considerado separadamente. Tal termo pode significar muitas coisas totalmente diferentes para diferentes pessoas. Isso pode ser claramente observável tanto entre maçons quanto não-maçons. Sendo assim, o sentido de “Vida Maçônica” poderá ter conotações diferentes em situações diversas.

 

Por exemplo, um maçom poderia simplesmente dizer que ter uma ‘Vida Maçônica’ é viver conforme os princípios da maçonaria. Outro irmão poderia dizer que ‘Vida Maçônica’ é sinônimo de (i) ser gentil em casa; (ii) ser honesto nos negócios; (iii) ser leal; (iv) ter um trabalho digno e honesto para o próprio sustento e da sua família; (v) praticar a cortesia na sociedade; (vi) ter compaixão pelos doentes e infelizes; (vii) resistir às adversidades; (viii) ajudar aos fracos; (ix) perdoar aos arrependidos; (x) amar ao próximo; e, acima de tudo, (xi) reverenciar a Deus; e (xii) amar o Grande Arquiteto Do Universo.

 

Sim, viver maçonicamente pode ser tudo isso. Mas, pode ser muito mais. Afinal, a ‘Vida Maçônica’ é uma filosofia de vida. Um modo agradável de viver.

 

Indiscutivelmente, quando buscamos viver bem, buscamos, consequentemente, o necessário cultivo e aperfeiçoamento de algumas virtudes pessoais, a fim de nos tornarmos capazes de viver em paz e em conformidade com as Leis Universais da Natureza.

 

Dentre as principais virtudes que buscamos encontrar, a principal é o ‘AMOR’.

 

O AMOR, juntamente com a TOLERÂNCIA e a HUMILDADE formam os três aspectos importantes da nossa natureza. Porém, são as ações, e não as palavras, que traduzem esse sentimento grandioso, fazendo com que o Maçom eleve as suas vibrações e, enfim, consiga caminhar para o resgate dos seus valores transcendentais.

 

Todavia, pararemos por aqui com as nossas considerações sobre o AMOR. Afinal, não é sobre o AMOR que se refere a pergunta. E, sim, sobre TOLERÂNCIA e HUMILDADE.

 

Nesse sentido, precisamos compreender o verdadeiro significado dessas duas palavras:

 

Sobre a HUMILDADE, podemos dizer que ela é uma das bem-aventuranças proclamadas por Jesus no Sermão da Montanha, quando diz:

 

“Bem aventurados os mansos, porque herdarão a Terra!”

 

Ora, ser manso é ser humilde. Dessa maneira, a humildade poderia ser compreendida como uma virtude do homem que aprendeu a dominar suas paixões, aplacando os seus sentimentos quase inconscientes de orgulho, de soberba e de arrogância. Reconhecendo-se como um ser limitado, mas, com um enorme potencial de crescimento. Essa limitação refere-se principalmente aos seus limites perante a grandeza de Deus.

 

A HUMILDADE é um dos alicerces da personalidade de um Verdadeiro Maçom. Junta-se à justiça e à verdade para formar o caráter do iniciado que pretende cumprir fielmente seus compromissos consigo mesmo, com o próximo, com Deus e com a Maçonaria.

 

É preciso muita determinação e paciência para conseguir trilhar, cada vez mais, o caminho da humildade. Um grande exemplo foi o de Jesus, cuja humildade nos ensinou, em Mateus 18: 1-5:

 

“Naquela hora, chegaram-se a Jesus os seus discípulos dizendo: Quem julgas que é o mais importante no reino dos céus? E chamando Jesus a um menino, colocou-o no meio deles, e disse: Em verdade vos digo, que se vos não converterdes e vos não fizerdes como crianças, não entrareis no reino dos céus! Todo aquele pois, que se fizer pequeno e humilde como esta criança, será o maior no reino dos céus”.

 

Ora, a verdadeira humildade não é a do Homem perante o Homem, mas sim perante a Deus. Jesus nos ensinou que pela humildade recebemos a ajuda divina. E quantas vezes alguém precisa de nós, mas, nós fugimos ou nos escondemos, sem consciência de que fazemos isso simplesmente por orgulho?

 

Na Maçonaria precisamos ter consciência de nossa missão e do que representamos: a Egrégora é imensa, de uma grandeza infinita, e nossa capacidade também será grandiosa se estivermos nela perfeitamente integrados.

 

Nós precisamos da Maçonaria. Ela precisa de nós, também, mas, nós precisamos dela muito mais. A partir daí teremos condições de exercer a nossa humildade.

 

A nossa missão é difícil, nossa jornada é cheia de obstáculos, e somente com humildade vamos entender que as dificuldades foram criadas por nós mesmos, em jornadas anteriores, e que não podemos culpar a ninguém, além de nós mesmos, por nossos sofrimentos.

 

A humildade nos auxilia e nos permite receber a ajuda divina, nos dá condições para contemplarmos o Mundo com visão bem próxima da realidade e nos concede a grandeza de avaliar nossas ações dentro da Lei de Causa e Efeito: (i) Obedecer à hierarquia; (ii) ser humilde sem se humilhar; (iii) ser manso sem ser servil; (iv) cumprir nossos deveres com plena consciência do que somos e do que queremos ser dentro da perfeita conduta doutrinária maçônica; (v) respeitar o nosso próximo; e (vi) buscar obedecer às leis da sociedade e da moral, sobretudo às Leis de Deus. Eis as nossas diretrizes como Verdadeiros Maçons.

 

Quanto à Tolerância, podemos dizer que ser tolerante é saber aceitar, de forma passiva, ações ou comportamentos com os quais não concordamos ou até mesmo reprovamos. Sendo, de certo modo, o mesmo que concordar com o mal real ou suposto, em respeito à liberdade e ao livre arbítrio, desde que não envolva ofensas ou crueldades.

 

O melhor exemplo de Tolerância é quando sabemos o que precisa ser feito, a forma positiva de agir, o modo correto de conduzir uma ação, mas, por amor, evitamos um choque que poderia ser prejudicial a quem está agindo mal.

 

Sem tolerância, a vida se transformaria em uma angustiosa luta, cheia de desespero, de sofrimentos e de infelicidades. A tolerância nos dá uma projeção de harmonia, de paz e de luz. Devemos, sempre, aprender a usar a tolerância para evitar posições agressivas ou de crítica, a fim de que possamos praticar a Lei do Auxílio não só no sentido do nosso merecimento, mas, principalmente, para nos ajudar a evoluir. Um instante de impaciência pode gerar um enorme período de aflições e de sofrimentos.

 

Existem pessoas que em virtude dos erros e teimosias, se tornam até mesmo cruéis ou violentas. E, pelo total desrespeito às Leis Divinas, se transformam em tristes quadros que envolvem dolorosas lutas, junto aos quais temos que levar avante a nossa missão, armados com o nosso amor, com os nossos conhecimentos doutrinários e com a nossa tolerância.

 

No Sermão da Montanha, Mateus 5:39-41, Jesus dá um verdadeiro exemplo de Tolerância:

 

“Não resistais ao malvado; pelo contrário, se alguém te ferir na tua face direita, oferece-lhe também a outra. E ao que tenciona tirar-te a tua túnica, deixa-lhe, também, a sua capa. E se alguém te obrigar a ir mil passos, anda com ele ainda mais dois mil.”

 

Quando assumimos o dever de vigiar ou controlar uma pessoa, para evitar seus maus comportamentos ou vícios, nos arriscamos a afundar cada vez mais aquela pessoa no abismo que pretendemos evitar, se não tivermos amor e tolerância.

                                 

Geralmente é uma atitude muito difícil, pois, torna-se um sofrimento silencioso e normalmente mal compreendido pelos outros. Afinal, é muito pessoal o que uma pessoa tem condições de aceitar ou tolerar. Nesse sentido, a tolerância não deve ser uma atitude dominante da personalidade, mas sim usada no momento certo e com a pessoa certa.

 

A tolerância é a melhor postura, por exemplo, para questões morais e religiosas. Mas, não significa que devemos ignorá-las, e, sim, controlar nossas ações e reações, nossas palavras e pensamentos, para não criar conflitos. Dessa forma, não afastamos aqueles a quem queremos ajudar e mantemos a PAZ em nosso interior e ao nosso redor.

 

Sempre que desejarmos consertar pontos negativos que vemos em outra pessoa, temos que agir com amor e tolerância para que aquela pessoa entenda sinceramente que o que pretendemos é modificá-la para melhor, porque nos importamos com ela.

 

Nesse mesmo sentido, a tolerância é baseada no conceito de que se não podemos modificar uma pessoa, temos que nos modificar a nós mesmos. Mas isso só funciona na direção positiva, quando fazemos um bom exame de consciência e verificamos que a nossa falta de tolerância ocorre por conta de nosso egoísmo e que nada há para ser mudado em outra pessoa, devendo esta ser aceita como ela é.

 

Devemos nos lembrar, porém, que precisamos estabelecer limites em tudo na vida, para tudo o que fazemos. E isso inclui a tolerância:

 

Se verificamos que estamos mais preocupados em modificar as atitudes de uma pessoa do que ela mesma, devemos repensar os nossos atos e analisar friamente a situação. A tolerância exige grandes sacrifícios, sinceros, profundos e verdadeiros. Constituindo-se em um verdadeiro ato de amor em busca da criação de um equilibrado padrão vibratório nos nossos relacionamentos, permitindo a aceitação do outro tal como ele é, sem perder de vista que estamos nesta vida para evoluir.

 

Enfim, considerando tudo o que foi exposto acima, se formos questionados novamente se é possível “VIDA MAÇÔNICA” sem “HUMILDADE” e “TOLERÂNCIA”, penso que a resposta correta seria a seguinte:

 

A HUMILDADE e a TOLERÂNCIA são virtudes que devem ser cultivadas e alimentadas. Ninguém é totalmente humilde ou totalmente tolerante. E sempre existirão os níveis de tolerância aceitáveis, bem como, os níveis de humildade possíveis.

 

Quanto à humildade, ela não pode ser confundida com humilhação. Na Maçonaria não é isso o que se busca e o que se espera. O que se espera é que sejamos humildes, mas, não humilhados.

 

Do mesmo modo, quanto à tolerância, ela não pode ser confundida com condescendência. Pois, na verdade, a tolerância exige uma certa flexibilidade. Mas, jamais exigirá a falta de firmeza em qualquer assunto.

 

Por isso, às vezes, quando somos firmes, somos taxados de intolerantes. Mas, na verdade, não se trata de intolerância. Até mesmo porque, maçonicamente, devemos ser firmes, mas, não inflexíveis.

 

Nesse sentido, digo que se observadas ao extremo, a HUMILDADE e a TOLERÂNCIA também podem ser nocivas. Quando consideradas ao extremo, humildade como sinônimo de humilhação e tolerância como sinônimo de Condescendência. Então, este não seria o caminho correto para uma vida verdadeiramente maçônica.

 

É cediço dizer que sempre foi muito perigoso o caminho dos extremos.

 

Em conseguinte, eu diria:

 

SIM. É possível uma vida maçônica sem a humildade e a tolerância, se as considerarmos em seus níveis mais extremos.

 

Mas, também diria:

 

NÃO. Não é possível uma vida maçônica sem a humildade e a tolerância, se considerarmos os seus níveis aceitáveis e esperados.

 

O Verdadeiro Maçom deve buscar o seu aperfeiçoamento a cada dia. Afinal, o Maçom é, também, um ser humano - com suas limitações e falhas - que, enquanto Pedra Bruta, busca polir-se, a cada dia, objetivando se tornar uma Pedra Polida.

 

Em conseguinte, a cada dia busca ser mais humilde e mais tolerante. Porém, sem perder de vista que jamais deverá ser humilhado ou displicente ou condescendente com os erros mais graves.